A propósito do recente 5.º aniversário do Museu Literário Fialho de Almeida, o “Diário do Alentejo” conversou com o presidente da Câmara Municipal de Cuba, João Português, sobre a importância que tem tido este núcleo museológico, os seus espaços de visitação e a sua perceção quanto ao mérito que o País tem tido para com o escritor.
Texto | José Serrano
A Câmara Municipal de Cuba celebrou, recentemente, os cinco anos de existência do Museu Literário Casa Fialho de Almeida. Que importância tem tido este núcleo museológico, residência do escritor no final do século XIX, na preservação da sua memória?
O Museu Literário Casa Fialho de Almeida tem o objetivo de devolver à memória coletiva o escritor e o seu importante contributo para a literatura portuguesa, assumindo-se como espaço de grande importância cultural e literária, de excelência para conhecer a vida e obra do escritor. Com cerca de 10 mil visitantes nos últimos cinco anos, e pelas opiniões extremamente positivas registadas, diria que o espaço tem tido um papel preponderante em trazer Fialho de volta ao imaginário coletivo e em despertar a curiosidade para o legado literário do escritor.
Quais os espaços de visitação e que oportunidades propicia a Casa Fialho de Almeida?
Naquela que era a área de habitação encontra-se o espaço museológico, dedicado às várias esferas da vida pessoal e profissional de Fialho de Almeida, onde se podem apreciar as 200 obras do autor que estavam expostas na Biblioteca Nacional e que nos foram cedidas. Nos casões adjacentes à casa o foco vai para a ruralidade e para a etnografia – temas recorrentes na escrita do autor –, existindo, ainda, uma adega designada “País das Uvas”, referência a uma das suas obras. Além disso, oferece uma programação cultural regular, que vai para além da esfera da vida e obra do escritor, sendo um dos equipamentos em Cuba onde se podem visitar exposições temporárias, participar em encontros literários, assistir a apresentações de livros, conferências, peças de teatro, espetáculos musicais… A casa tem, ainda, um espaço reservado a residência temporária de artistas, que ali queiram permanecer e desenvolver as suas obras.
Considera que o País tem sabido retribuir o contributo do escritor para a literatura portuguesa?
Não. Falta fazer mais para atribuir à obra do escritor o seu devido valor e protagonismo. Sendo figura incontornável da literatura portuguesa, é injusto que nos manuais escolares ou nas instituições académicas o escritor não seja, ou seja pouco, mencionado, e que continue a permanecer, para a grande maioria, entre os ilustres desconhecidos da história da nossa literatura. Daí que o município de Cuba tenha vindo a reeditar títulos da obra de Fialho de Almeida, a exemplo de Contos, em 2021 – obra publicada pela primeira vez em 1881 e há muito esgotada. No próximo dia 13 de julho iremos lançar uma nova obra dedicada ao escritor, intitulada Fialho de Almeida e a Literatura Comparada – Leituras Cruzadas, prevista vir a ser apresentada em França e Espanha, que pretendemos que possa internacionalizar, ainda mais, o escritor, enaltecendo o seu legado e memória, fomentando um diálogo comparatista com outros autores nacionais e internacionais, de modo a refletir sobre temas comuns e cosmovisões diversificadas.